Header Ads

Cresce busca por cursos EAD práticos como Engenharia e Enfermagem



Desde 2005, quando o Ministério da Educação (MEC) regulamentou os cursos superiores a distância no Brasil, o cenário da EAD mudou bastante. O desenvolvimento tecnológico e a sua incorporação aos métodos pedagógicos permitiram que a EAD pudesse ser aplicada nas mais diversas carreiras do Ensino Superior. Sejam exatas, humanas ou biológicas, sejam bacharelado, licenciatura ou tecnológico, para qualquer área ou titulação que você tiver interesse existe hoje uma graduação a distância disponível.
Se no início dos anos 2000 havia algumas poucas dezenas de cursos superiores a distância, agora já são 1.685 graduações EAD, segundo levantamento do Guia do Estudante. As graduações EAD mais procuradas são as licenciaturas e os cursos na área de gerenciamento – como Gestão e Administração. Essas graduações têm um formato totalmente adaptado para o múltipla escolha ensino EAD, pois são focadas em aulas teóricas on-line, e o seu aprendizado é mais baseado na leitura de texto e reflexão.
Outro fator que faz com que essas graduações tenham uma demanda alta são os preços das mensalidades, que costumam ser acessíveis, pois não exigem instalações caras em seus polos presenciais. Geralmente os alunos vão até lá apenas para fazer avaliações.
Pedagogia é a grande campeã, liderando o topo da lista, com 24,5% do total de matrículas a distância no Brasil, de acordo com o último Censo de Ensino Superior do Inep/MEC, realizado em 2015. Isso se deve, em grande parte, a incentivos governamentais para suprir a carência de docentes, como o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor). O programa foi criado em 2009 pelo governo federal para formar professores que não possuem curso superior ou lecionam em área diferente daquela da sua formação.
Além de Pedagogia, o Parfor oferece as licenciaturas (tanto na modalidade presencial quanto na a distância) em todo o Brasil. No caso da EAD, esses cursos são totalmente on-line, e a prática é aprendida nos estágios em escolas.

Gestão em alta


 (Guia do Estudante/Reprodução)
Outra área bastante atrativa é a dos cursos ligados a gerenciamento, que ocupam juntos 32,6% do total de matrículas EAD no país. Entre eles, o que mais se destaca é o de Administração, com 13% das matrículas. “É um curso generalista. Sua procura é alta, principalmente por pessoas que já são graduadas e querem administrar o próprio negócio, como veterinários que desejam gerenciar clínicas”, afirma Silmara Cristiane Gomes, coordenadora do curso de Administração EAD do Senac, em São Paulo. Ela explica que nesse tipo de graduação os alunos vão ao polo apenas para fazer a prova, o que facilita bastante a vida do estudante, que geralmente já se dedica a outra profissão.
Vale destacar ainda os cursos tecnológicos de gestão, que também são graduações, porém mais curtas, com foco sobre determinadas demandas do mercado. Por serem de menor duração, essas graduações representam um caminho mais rápido para quem tem urgência em obter a formação. “Os alunos dos cursos tecnológicos de gestão costumam ser profissionais que já trabalham, mas não tiveram oportunidade de fazer a graduação antes, ou que já possuem um diploma superior e buscam uma segunda graduação para tentar uma promoção”, explica Josiane Tonelotto, reitora da EAD Laureate.
Os cursos tecnológicos, incluindo outros fora da área de gestão, já são maioria entre as graduações a distância. Pelo levantamento feito pelo Guia do Estudante junto às instituições de ensino, a EAD oferece, em 2017, 52 tipos de curso para tecnólogos, contra 34 bacharelados e 19 licenciaturas. E, segundo o Censo da Educação Superior, do MEC, em 2015 os tecnológicos reuniam 392,6 mil alunos – cerca de 28% do total de matriculados em cursos da EAD.

A prática a distância

Os cursos a distância mais teóricos predominam em todo o Brasil. Mas vem crescendo nessa modalidade o número de graduações que exigem atividades técnicas, tradicionalmente realizadas em aulas práticas, como é o caso de Engenharia, Educação Física, Enfermagem, Nutrição e Gastronomia. Só para citar um exemplo, em 2015 havia cerca de 25 mil alunos matriculados em 48 cursos de Engenharia EAD, conforme o último Censo de Ensino Superior do Inep/MEC. Cinco anos antes, os números eram bem menores: oito cursos com pouco mais de 3 mil estudantes matriculados.
Mas como é possível um curso prático ser oferecido a distância? Ao longo do tempo, essas graduações foram adaptadas a essa nova modalidade. “No caso das Engenharias, as disciplinas na EAD são as mesmas de um curso presencial tradicional. O que muda é a interação, que é intensamente mediada por tecnologias”, explica Waldomiro Loyolla, professor titular e coordenador-geral das Engenharias da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), onde são ofertados os cursos de Engenharia de Computação e Engenharia de Produção, ambos EAD.
Entre as ferramentas usadas pelos alunos de Engenharia, o docente cita videoaulas, simulações on-line, animações, jogos e bibliotecas digitais. Nos laboratórios virtuais, acessados pelos estudantes dentro do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), são feitas experiências que se aproximam da realidade. “Nos simuladores de sistemas, o aluno pode modelar uma indústria, com visualização 3D, e extrair resultados como se estivesse realizando operações reais”, detalha Loyolla.
Além disso, o fato de ser um curso de Engenharia a distância pressupõe uma série de atividades práticas, indispensáveis para a aprendizagem e assimilação das técnicas necessárias para o exercício da profissão. “Dependendo do semestre, o aluno precisa ir quinzenalmente ou mensalmente ao polo presencial, onde há atividades nas salas e nos laboratórios temáticos e móveis (como de física e química).”
Apesar de o curso ser feito a distância, a rotina de um curso de Engenharia nessa modalidade não deixa de ser puxada. “Todos os dias, trabalho na prefeitura de minha cidade. Ao chegar do meu trabalho, à noite, eu estudo de três a quatro horas. O conteúdo é muito grande e não posso deixar acumular”, diz Darlan Aparecido da Silva Serra, 36 anos, biólogo e estudante do 4o semestre do curso de Engenharia Civil da Universidade Anhanguera, em Naviraí (MS). Ele vai ao polo participar das atividades práticas duas vezes por semana. Em um dos dias tem aula transmitida ao vivo, via satélite. No outro, tem aula prática em laboratório, como a de desenho técnico. “Acredito que a modalidade, seja presencial, seja a distância, não é fator determinante para o sucesso de um aluno. A dedicação aos
estudos é o que vai fazer a diferença”, conclui Serra.
Também pensa assim Henrique do Amaral Luz, aluno do 4o semestre do curso de Enfermagem EAD da Universidade Norte do Paraná (Unopar), em Vacaria (RS). Assim como Serra, ele tem uma rotina bastante apertada, trabalhando todos os dias como técnico em enfermagem em uma UTI móvel. Mas as noites são dedicadas aos estudos. “No começo, fiquei com receio de cursar a distância, pois havia muito preconceito. Mas, depois que comecei o curso, vi que há muitos recursos tecnológicos que ajudam nos estudos, como vídeos e áudios no AVA, além de textos disponíveis na biblioteca digital”, comenta o aluno.
Como nem todas as atividades podem ser mediadas pela tecnologia remota, o seu curso exige a presença no polo três vezes por semana, onde Henrique tem aulas práticas em laboratório, como o de microbiologia, em que é necessário o uso de microscópios. No próximo semestre, dando continuidade ao aprendizado prático, inicia o estágio no hospital da cidade, que tem convênio com a universidade.

Desconfança dos conselhos

Se os cursos teóricos começam gradativamente a superar a desconfiança de alunos e do mercado de trabalho na modalidade a distância, as graduações mais práticas como Engenharia e Enfermagem ainda têm um longo caminho pela frente. O aumento da oferta desses cursos e a consequente inserção profissional de estudantes que se formaram em EAD indicam uma maior aceitação da modalidade. Mas a resistência permanece em alguns setores, especial-
mente nos conselhos de classe.
“A enfermagem é uma profissão que lida com vidas. Portanto, procedimentos de diversas naturezas, desde o acolhimento do paciente até os mais complexos, como a introdução de uma sonda, não podem ser ensinados a distância. As disciplinas EAD devem ser apenas complementares”, afirma Fabíola Campos, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP).
Jorge Steinhilber, presidente do Conselho Federal de Educação Física (Confef ), concorda. “Todos os cursos da área de saúde devem ser presenciais, pois tratam do ser humano. Não somos contra os recursos tecnológicos, mas acreditamos que as disciplinas EAD não devem ser mais do que 20% do currículo”, complementa ele. De acordo com a lei, qualquer curso que tenha mais de 20% da carga horária cumprida a distância é considerado EAD.
Apesar da objeção, os conselhos são obrigados a reconhecer o diploma concedido pelos cursos que seguem as normas do Ministério da Educação (MEC). No entanto, no caso das Engenharias, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) tem autonomia para restringir as atribuições do profissional, caso o curso em que se formou não atinja alguns requisitos mínimos de qualidade – o que vale tanto para a EAD como para a modalidade presencial. “Os conselhos devem usar como balizamento o resultado do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e ainda verificar se as instituições de ensino têm docentes, tutores, laboratórios e bibliotecas com qualidade e que atendam à legislação”, alerta José Guilherme Pascoal de Souza, diretor de Educação do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (CREA-SP).
De todo modo, seja em qual área for, se você optar por fazer uma graduação a distância não deixe de pesquisar bastante: informe-se bem para escolher a instituição mais adequada, que possa lhe dar uma formação eficiente e que tenha qualidade reconhecida pelo mercado de trabalho e pelos conselhos de classe. Segundo os especialistas, uma boa formação em EAD depende muito da disponibilidade e do uso de recursos de tecnologia, de professores bem preparados e do cumprimento das atividades práticas imprescindíveis nos polos presenciais. E o estágio, que é fundamental.

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.